Maquinária Rock Field – Parte 3 – Crônica de um Massacre Anunciado – Torture Squad!

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Já passava da meia-noite na bela Chácara Morada da Lua. A galera do metal suportava espartanamente o vento gelado em pleno verão. O cansaço era visível em cada canto. Boa parte do pessoal simplesmente desapareceu após o show da Ultra Violent, banda da casa que já entrou com o jogo ganho. Depois da Ultra, ainda tivemos a Darma Khaos, de Curitiba, com seu crossover, já para um público bem menor. Com o tempo estourado e vizinho reclamando do “barulho” (sacanagem chamar de barulho, mas tudo bem…), a Maquinária, dona da festa, realizadora deste monumental evento (junto à Pallco e aos Dead Cowboys), fez um set curto, com pouco público, mas um público que abraça a causa e acompanhou cada momento no palco. Durante o pocket show dessa antiga e clássica banda guarapuavana, chegou a van da atração principal do festival: Torture Squad!

Cansaço. Frio. Muito frio. Cãimbras. Altas horas. Saco cheio àquela altura. Muita gente já tinha ido embora, sem conferir a banda da noite. E foi longo, muito longo o tempo que a Torture levou para deixar seu equipamento absolutamente redondo para o show. Nada poderia ficar abaixo da perfeição, e foi com esse espírito e essa esperança que ficamos aguardando. E a demora desanimava a galera… uns pensavam em ir embora. Outros, mais espertos, trouxeram cobertores. Escuridão e um inusitado silêncio calavam as almas atormentadas. Não contei, mas não devia ter muito mais de 50 pessoas naquele momento, perto das 2h da madruga.

O trio, formado por Amílcar (bateria), Castor (baixo e vocal) e André Evaristo (guitarra e vocal), passava o som, testava, mexia, alterava, testava de novo, e a galera, cheia de olheiras, com sono e frio, observava (só observo…). Mas… o tempo passa, e em algum momento o espetáculo começaria. Ok, os discos são fantásticos. Mas será que ao vivo a banda seria tão impressionante? Valeria aquele “sacrifício”?

A resposta, creio, seria unânime após o show: do caralho!!!!!!!!!

Absolutamente um massacre! Uma porradaria altamente técnica, de uma qualidade assombrosa. Três instrumentistas impressionantes, além de carismáticos e profissionais ao extremo. Extremo como o som. Era inacreditável o que estava acontecendo. E praticamente não havia intervalo. Uma música emendada na outra, pra não dar um instante sequer de sossego aos nossos privilegiados ouvidos. Aqui eu já torno a narrativa absolutamente pessoal. Estava hipnotizado. Esqueci o frio, a vontade de mijar, o sono, a dor nas pernas (véio é foda…), e me senti integrado àquela catarse coletiva, àquela onda sônica que nos arrasava, a todos. Os três músicos são incríveis. O baterista parece ter uns 12 braços. O bumbo duplo fazia o chão tremer. O baixista, um caso à parte. Impressionante a destruição causada pelo cara. Além da presença monstruosa de palco e a voz de trovão. O guitarrista solando lindamente, tirando sons inacreditáveis e pesadíssimos daquelas 6 cordas tonitruantes.

Não havia mais ninguém reclamando de porra alguma. Privilegiados. Uma banda desse quilate tocando para umas 50 pessoas. Pessoas que certamente não esquecerão esse momento. Devo dizer que o profissionalismo da banda é notável. Tocaram com uma garra animal, ofereceram o melhor de seu talento para alguns poucos presentes. Isso é banda!!! Isso é respeito pelos fãs. Tanto faz se são cinco mil pessoas, ou algumas poucas dezenas. Ao final do show (é, infelizmente ele acabou…), demonstraram extrema simpatia conosco, e pela causa do underground. Rolou uma distribuição de baquetas (não consegui uma…) e ainda uma foto coletiva, que pode ser conferida abaixo.

De minha parte, devo dizer que foi um dos melhores shows que já assisti. E ainda, claro,  o privilégio de conferir ao vivo e tão de perto uma das maiores bandas do Brasil, quiçá do mundo! Porque o que esses caras tocam, e quem conhece sabe, não é pra qualquer um. Gênios! Sem viadagem, o som é tão fantástico que uma lágrima quase desceu de um de meus olhos! Houve um momento em que tive uma leve vertigem, com a sensação de que o palco estava se inclinando. Cansaço? Ou o som causou isso? Sei lá. Só sei que não vi ninguém sair triste de lá… quem ficou até o final, sabe que valeu, e muito, a espera, o frio, o cansaço… e ainda lamentou quando o show acabou. Novamente o silêncio, a escuridão, as trevas… e as lembranças de uma barulheira infernal e de altíssima qualidade.

Jamais esqueceremos, tenho certeza disso!

A atual turnê divulga o mais novo disco da banda, lançado em 2013, e intitulado Esquadrão de Tortura. É o primeiro com título em português, o primeiro como um trio (salvo engano, e alguém me corrija, se estiver errado), e o primeiro disco liricamente conceitual. As letras tratam do período em que o Brasil esteve nas mãos de uma ditadura militar.

O setlist apresentado pelo trio foi o seguinte:

NO ESCAPE FROM HELL
PULL THE TRIGGER
PÁTRIA LIVRE
PANDEMONIUM
LIVING FOR THE KILL
COME TO TORTURE
THE UNHOLY SPELL
GENERATION DEAD
CHAOS CORPORATION
HORROR AND TORTURE

Torture Squad em Gorpa!

Torture Squad em Gorpa!

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